Brasil, o país do futebol?

Brasil, o país do futebol?  O olhar de uma garota apaixonada por futebol


"A ideia para a página surgiu porque sempre acompanhei o futebol feminino e eu tinha muito medo de publicar algo e as pessoas me atacarem"


O Brasil é conhecido mundialmente como o país do futebol, muito em função dos títulos que a Seleção Brasileira obtém. Com atletas de alto nível e fortes campeonatos nacionais, até mesmo em músicas são citadas que o Brasil é o país do futebol. Porém esse título serve muito para o futebol masculino. Afinal , quando o assunto é futebol feminino, o país fica bem aquém de ser o país do futebol: são atletas que passam dificuldades, times que não dão apoio para as atletas, reconhecimentos abaixo do merecido, coberturas jornalísticas deixando a desejar. Por meio ,disso podemos nos perguntar, "Brasil, o país do futebol?". 

A pergunta feita no título serve justamente para uma reflexão do leitor: será mesmo que estamos no país do futebol? É perceptivo que parando para uma breve reflexão, se colcarmos em modo geral, talvez a resposta seja não, o país do futebol apenas para os atletas masculinos, com salários astrônomicos e um poder social bem grande? Isso é o correto, chegamos na realidade do futebol feminino, baixos salários, falta de reconhecimento, preconceito vivido pelas atletas, uma realidade bem diferente do futebol masculino. Refaço a pergunta, Brasil o país do futebol?

Além das quatro linhas, o extra campo para as mulheres que buscam espaço no futebol também não é fácil, Clara Correia é dona de uma página no Twitter e Instagram  que se chama Recanto Fc, página sobre o futebol de modo geral e que é administrada exclusivamente por mulheres. A página foi premiada no ano de 2021 com o título de melhor página de futebol feminino, em votação feita pela página esportiva Choro Futebolístico

"A ideia para a página surgiu porque sempre acompanhei o futebol feminino e eu tinha muito medo de publicar algo e as pessoas me atacarem. A página começou como Recanto CRF, eu postava notícias somente sobre o flamengo. Não mostrava meu rosto, não falava quem eu era, algo tipo uma anônima. Comecei a chamar mais meninas para me ajudar, estava com uma demanda muito grande na página, nisso eu percebi que a página tinha um potencial muito grande e não podia ficar limitada a um só time, era possível mudar isso e crescer o projeto e assim alcnçar mais gente para o futebol feminino, foi quando decidi falar mais sobre mim e mostrar meu rosto, perdi o medo e assim comecei com o Recanto Fc, recebendo muitos ataques, na verdade recebo ataques até hoje, mas hoje é algo que não me afeta tanto como no início. Sendo o Recanto um portal com notícias do futebol masculino e feminino". Relata Clara Correia. 



A página Recanto Fc, tem todo um script para suas publicações e informações: são 8 diretoras ao total, para que a página passe o maior número de informações ao público de uma forma transparente e correta, crescendo tanto no twitter e instagram. No grupo geral da página são 38 meninas, todo um planejamento para deixar a página bem recheada com as informações para que o público sinta o prazer em acompanhar as notícias do futebol. 

"Mais de 200 meninas já passaram pela página facilmente, são 8 meninas na diretoria que resolvemos todas as coisas, tudo passa pela gente e no grupo geral são 38, mas é aquilo o número não é algo tão certo, porque geralmente entram muitas meninas no projeto e saem também. Procuramos ter por volta de 5 meninas responsáveis para cada time, apesar das dificuldades tentamos seguir desta forma. Todas as meninas são de cidades diferentes e não nos conheciamos antes do projeto, foi algo que aproximou a gente e claro, temos que enfrentar a maior barreira que é o machismo, é o que mais nos atrapalha, se fossemos nas ideias desses caras ficaríamos destruídas. As vezes postamos uma mesma publicação de uma página masculina, porém as pessoas observam com outros olhos, não nos dão visibilidade e as vezes falam que estamos mentindo, isso dói e machuca muito, nossa página caiu uma vez no Twitter, por conta de denúncia por publicações nossa sobre o futebol feminino, nós sabíamos que eram pessoas preconceituosas. Nós só queremos fazer nosso trabalho." diz Clara. 

Além de ser dona da página, Clara também levanta causas sobre o futebol feminio e o espaço das mulheres no esporte por onde vai, uma forma de representar as mulheres de uma forma que seja visível que elas estão buscando espaço, querem espaço e podem tê-lo. Isso ajuda no reconhecimento, afinal com essa iniciativa já é uma forma de engrandecimento das mulheres no esporte em geral. Elas buscam seu espaço e merecem, atletas, jornalistas e demais especialidades são capazes também de estar dentro do futebol. 





 

 





"Eu acho que a visão das pessoas com o futebol feminino é de muito machismo, muito mesmo, ficam sempre procurando algo negativo para falar da modalidade, as pessoas que vão assistir de mente aberta, querendo conhecer se apaixonam. O futebol feminino foi proibido por cerca de 40 anos, então o masculino já está muito a frente em alguns quesitos, em questões até mesmo de investimentos, as pessoas não entendem isso, por mais de 40 anos o futebol feminino era proibido, então o olhar preconceituoso ainda existe, bastante, as vezes resumem o futebol feminino em uma partida da seleção brasileira, nunca pararam para assistir seu time de coração jogar no futebol feminino. As pessoas precisam evoluir neste quesito. O futebol feminino também é arte. A maioria dos seguidores da página são mulheres, como falei, os homens costumam se doer muito ao saber que todas as administradoras são mulheres."cita Clara Correia. 

Dentro do jornalismo, podemos perceber uma diferença tanto nas coberturas, quanto no tratamento entre atletas masculinos e femininos. Isso pode ser comprovado, por exemplo,  quando no mês de fevereiro de 2022, tivemos a primeira narração de uma mulher em um jogo de futebol no Brasil. Estamos falando do século 21 onde muitos dizem que estamos em constante evolução, porém ainda temos que conviver com este tipo de situação, mulheres capazes de ter o seu espaço, mas sem o devido reconhecimento, são anos de luta por espaço na modalidade. 

 Comparar o futebol masculino com o feminino, talvez não seja a melhor maneira para ter uma evolução na modalidade feminina, a diferença de patrocínios, treinos e jogos é nítida,  e os meios jornalísticos podem auxiliar neste ponto, para que exista uma evolução na modalidade, façam coberturas que promova o futebol feminino e não coloque para baixo o esporte. Clara cita:"É muito complicado falar disso, porque a gente não pode nem comparar com o futebol masculino, é absurdo que tenham pouquíssimos jornalistas sérios que falem sobre o futebol feminino, que é muito dificil de acontecer. Existem alguns jornalistas que fazem matérias de um modo que incentive a pessoa em não entender ou não se interessar sobre o futebol feminino, são poucos os que param para ler e transmitir sobre o assunto. Acho que o jornalismo é um meio que está muito abaixo e precisa evoluir muito, afinal são muitas pessoas com potenciais enormes e que eu gostaria de ver cobrindo o futebol feminino, mas por conta dessa pressão não fazem, olham para o futebol feminino e pensam, nossa a pessoa está cobrindo o futebol feminino por estar no fim da carreira ou sendo minoria. Por isso quero me tronar jornalista e cobrir o futebol feminino de uma forma diferente e mais respeitosa."

As responsabilidades sobre esse cenário são distribuídas para cada um dos atores envolvidos onde cada um tem sua parcela de culpa, clube, sociedade, pessoas ligadas ao jornalismo. é necessário uma mudança para que a visualização sobre o futebol feminino, a cobertura, a valoração desta modalidade seja melhor, seja positiva, elas merecem espaço e oportunidades, seria o mínimo que a sociedade poderia prestar para o futebol feminino neste século 21 e nos próximos que virão, uma mudança é necessária. Elas merecem respeito!


O blog Mulheres Também Jogam, agradece Clara Correia pela entrevista e saiba que estamos aqui para ajudar da melhor forma possível!

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